terça-feira, 18 de outubro de 2011

Assentamentos de forças e poderes



Introdução:
Uma das maiores dificuldades para os médiuns umbandistas encontra-se no campo dos assentamentos de forças e de poderes que lhes darão a sustentação, a defesa e o amparo em seus trabalhos ou em suas sessões espirituais.
O assunto é complexo e sua abordagem é delicada porque, tal como no campo das oferendas, algumas coisas mudam de pessoa para pessoa e o que é certo e necessário para uma não é para outra força (ou outro poder).
Comecemos por definir o que é força e poder:
• Usamos a palavra força para o que é espiritual ou provem do espírito.
• Usamos a palavra poder para o que é divino ou provem da divindade.
O que é espiritual não é divino e vice versa. Logo, é necessário que usemos as palavras que diferenciem e classifiquem corretamente as entidades que formam o lado invisível da criação e que estão dando sustentação a Umbanda.
• Poder é algo permanente, estável e realiza-se por si só na vida de seus beneficiários, não dependendo de nada além de Deus para influir sobre tudo e todos em seu campo ou faixa de atuação.
• Força é algo transitório, instável e em permanente evolução, as vezes mostrando-se em seu estado potencial e outras mostrando-se em atividade, sempre dependendo da existência do poder para ser colocado em movimento e beneficiar-nos.
Há diferença entre poder e força e entre divindade e espírito.
A divindade é o poder, o espírito é a força!
A divindade realiza-se por si na vida dos seres porque é em si a ação, enquanto o espírito só pode e consegue agir sobre os seres se a divindade lhe conceder poderes para tanto.
Tomemos como exemplo o Orixá Ogum e os Caboclos de Ogum, para que não fiquem dúvidas  quanto as diferenças que existem entre poder e força.
• Ogum é Orixá ordenador da criação e modelador do caráter e da moral dos seres, visto que ele é o poder em si manifestado por Deus para atuar sobre tudo e todos ao mesmo tempo sem que nunca perca seu poder se atuação; nunca se enfraqueça; nunca deixe de ser onipotente, onisciente e oniquerente.
Ogum é o poder de Deus em ação permanente, imutável e intransferível; o que Ogum faz só Ogum pode e consegue fazer.
Ele independe de algo mais de Deus para ser o que é ou como é, e nada posterior ou inferior a ele influencia-o ou altera esse seu estado de ser e de poder.
Ele modela o caráter e a moral dos seres. Independentemente de sua vontade, sua influencia se faz sentir na própria consciência de todos os transgressores das leis divinas e humanas, não importando se conhecem ou não Ogum, pois “ogum é um dos nomes humanos já dados a esse poder, que já recebeu outros nomes e no futuro receberá outros.
Tenha o nome que lhe for dado, ainda assim ele continuará a ser o que é: o poder modelador do caráter e da moral dos seres e o ordenador divino dos procedimentos.
O poder de Ogum é inalterável, estável, permanente e independe de um nome para atuar sobre tudo e todos em sua faixa ou campo de atuação na criação.
Isso, para nós, é o poder e está bem definido!
Quanto a força pegamos como exemplo para defini-la os Caboclos de Ogum, para que fique bem claro o seu significado.
Um Caboclo de Ogum é um espírito em constante evolução consciencial e, a partir dessa sua evolução, novos campos ou faixas de atuação vão lhe sendo abertas pelo Orixá ou poder Ogum.
Quanto mais o Caboclo de Ogum evolui e se aperfeiçoa consciencialmente, maior é o seu campo de ação e maior é seu poder de atuação sobre outros seres espirituais, aos quais ampara, direciona e modela no caráter e na moral.
Enquanto atua de dentro para fora dos seres, o Caboclo de Ogum atua de fora para dentro.
• O poder realiza-se por si só.
• A força só se realiza por intermédio de algo ou de alguém.
• O poder tem atuação permanente e atua “por dentro” das coisas ou dos seres.
• A força tem atuação limitada no tempo e atua “por fora” das coisas ou dos seres.
O poder regula a natureza, seja a de um ser ou do meio em que ele vive, proporcionando-lhes estabilidade e equilíbrio interior.
A força altera essas naturezas, proporcionando-lhes alterações e reequilíbrios ou adaptações exteriores.
Em um meio cuja a natureza é fria, tal como as regiões próximas dos pólos, vivem seres (animais, aves, peixes, plantas, etc.) específicos dele. Já nós, os seres humanos, se quisermos viver nessas regiões, temos que construir moradias especiais; temos de cobrir nosso corpo com roupas especiais e temos de trazer de longe alguns artigos indispensáveis à nossa sobrevivência.
• A natureza terrestre é regulada pelo poder. Nós recorremos à força para alterarmos o meio natural de alguma forma, adaptando-o externamente às nossas necessidades porque, “internamente”, as regiões polares sempre serão frias e não conseguiremos mudar esse seu “estado”.
Recorrendo a esse exemplo, podemos diferenciar o poder e a força porque enquanto poder ele faz os pólos serem como são e esta, enquanto força, só pode alterá-lo se criar adaptações para que os seres não pertencentes à sua natureza neles sobrevivam.
O poder de Ogum, por modelar de dentro para fora, faz com que os meios sejam como são, cada um com sua natureza específica. E o mesmo faz os seres, proporcionando uma natureza intima especifica para cada espécie.
• Os peixes são como são.
• As aves são como são.
• Os bichos são como são.
Vivendo em seus habitats naturais, são hoje como eram no passado pré-historico e esse “modo de ser” de cada espécie permaneceu inalterado ao longo dos tempos. Se ocorreram mudanças, elas foram “por fora”, para adaptá-los a algumas mudanças físicas e climáticas.
Conosco também ocorreu isso e “internamente” somos os mesmos que éramos quando Deus nos criou.
Nossa natureza íntima permaneceu inalterada e, se ocorreram mudanças, foram externas.
• O poder modela as coisas (natureza, seres, espécies inferiores, etc) de dentro para fora, dando-lhes um estado específico que é permanente, diferenciando umas das outras e qualificando-as.
• A força entra em ação quando as alterações exteriores começam a descaracterizar as coisas, desqualificando-as ou desequilibrando-as.
Por isso Ogum (o poder) tem nos espíritos graduados como instrumentos da lei suas forças, que são colocadas em ação sempre que as atuações de dentro para fora já não são suficientes para manter o equilíbrio.
É nesse ponto, nessa necessidade da atuação de fora para dentro, que os espíritos (a força) adquirem importância e tornam-se indispensáveis para a manutenção do equilíbrio entre o lado interior e o lado exterior dos seres, dos seres e da própria criação como um todo.
Como o lado divino da criação atua de dentro para fora e os Orixás vivem no seu lado divino, foi preciso a criação de algo que permitisse a exteriorização desse poder e sua colocação em ação a partir do próprio meio em que os seres vivem.
Dessa necessidade surgiram os santuários naturais, os templos, os altares, os assentamentos, as firmezas, as oferendas, as imagens, os instrumentos mágicos, etc.
Não se trata de animismo, de paganismo, de idolatria, de fetichismo etc., mas de formas de exteriorização do poder para que melhor ele possa nos auxiliar e nos beneficiar “dentro” do próprio meio em que vivemos.
Como nosso assunto são assentamento de poderes e de focas pelos médiuns e dirigentes espirituais umbandistas, cremos que está justificado o ato de assentarem os orixás e guias espirituais para que melhor possam ajudar as pessoas necessitadas desse auxilio adicional que Deus nos franqueou e colocou à nossa disposição.
Um assentamento é um local especial porque nele há um portal “tridimensional” que interage de forma permanente entre as três dimensões ou lados da vida: o lado divino, o natural e o espiritual.
Essas três dimensões ou lados da vida já interagem de forma permanente nos santuários naturais consagrados aos poderes e às forças e neles podemos entrar e trabalhar em nosso benefício ou no dos nossos semelhantes.
Mas em nossa casa ou em nosso centro, aí se faz necessário o auxilio dos assentamentos para que os três lados possam interagir e realizar ações corretas em benefício dos necessitados, sem que estes tenham de ir até a natureza continuamente.
Assentam-se forças divinas, naturais e espirituais.
Esses assentamentos são importantes porque são em si portais multidimensionais e interagem com realidades de vida ainda desconhecidas por nós, os espíritos encarnados.
Mas, como afirmamos no inicio dessa introdução, uma das maiores dificuldades dos médiuns e dirigentes umbandistas reside nesse campo porque há um grande desconhecimento sobre assentamentos e firmezas dos poderes e forças que sustentam e se manifestam por intermédio da religião e da mediunidade dos seus praticantes.
• Um assentamento é algo abrangente e envolve todo um poder.
• Uma firmeza é algo mais limitado e concentra-se em uma entidade, seja ela divina, natural ou espiritual.
Firma-se um Orixá, um ser da natureza ou um espírito! Agora, um assentamento é algo tão abrangente que ele por si só é realizador e é capaz de dar sustentação a todas as ações realizadas dentro do campo abrangido por ele: o Centro de Umbanda.
O que é um assentamento?
Assentamento é o local onde são colocados alguns elementos com poderes magísticos, com a finalidade de criar um ponto de proteção, defesa, descarga e irradiação.
Um assentamento pode ser destinado a uma só força ou poder ou a várias. Mas, em geral, faz-se um para cada força ou poder que se deseja assentar.
- Por que assentar uma força ou poder?
Bom, as forças vivem no plano espiritual e os poderes vivem no plano divino da criação, e, a  partir deles, enviam-nos suas vibrações, auxiliando os trabalhos espirituais que são realizados nos Centros de Umbanda.
Esse auxílio é natural porque se processa religiosamente. Mas, como em um trabalho espiritual vem pessoas com poderosas cargas negativas, é preciso que exista no plano material pontos de descarga que possam absorvê-las e enviá-las de volta à faixas vibratórias negativas.
Esta é um a das funções de um assentamento de força e de poderes.
A entidade assentada (Orixá ou Guia Espiritual) tem no assentamento elementos com poderes mágicos, os quais utiliza ativando-os segundo as necessidades do Centro, do trabalho espiritual e dos médiuns.
Em regra, faz-se um assentamento central e daí em diante começa a firmeza de outras forças ou de outros poderes ao seu redor, aumentando seu campo de ação e de atuações.
Se é o assentamento de um Orixá, outros não devem ser assentados ao redor ou ao lado dele, porque cada um é um poder realizador em si mesmo, e dois ou mais assentamentos dentro de um mesmo ambiente criam dois pontos distintos que farão a mesma coisa e o recomendado é que, caso alguém queira assentar dois ou mais Guias ou Orixás, então deve reservar um ambiente para cada um, separando-os e isolando-os para que suas vibrações, irradiações, ações e atuações não se misturem e não se confundam. Por isso existem os assentamentos e a firmezas.
Os assentamentos criam vórtices ou “pontos de forças”, enquanto as firmeza de outros guias e Orixás dotam-no de um maior poder de realização.
Esse aumento de poder de realização deve-se ao fato de que os Guias e os Orixás firmados ao redor do assentamento central “emprestam-lhe suas forças e poderes e abrem-lhe seus campos de ações e atuações, aumentando o leque de opções ao Guia ou ao Orixá assentado, que lhe repassará atribuições às quais exercerão com desenvoltura, porque terão no assentamento um poderoso ponto de descarga, de proteção e de auxílio nas suas ações mais profundas.
Normalmente se assentam o guia-chefe e o Orixá regente da coroa do dirigente espiritual, assim como ao seu Exu e/ou sua Pombagira guardiã.
• Os assentamentos do Guia-Chefe e do Orixá devem estar localizados dentro da cosntrução que abriga o terreiro.
• Os assentamentos do Exu e/ou da Pombagira guardiã devem ser feitos do lado de fora da construção principal que abriga o terreiro, ainda que também possa estar dentro de outra construção de menor porte.
O ideal ( ainda que isso nem sempre seja possível) é que os assentamentos dos Orixás e dos Guias-Chefes da direita e da esquerda se localizem em cômodos isolados e com acesso restrito, inacessível ao público.
Quando o centro não tem espaço para tanto, aí o recomendado é que assentem o Orixá e o guia-chefe da direita sob o altar e o Exu e/ou a Pombagira guardião em uma casinhola na entrada do terreno que abriga o terreiro.
Centros localizados em terrenos e construções amplas tem mais facilidade para fazê-los. Já nos menores, aí é preciso um pouco de criatividade para fazer os assentamentos e as firmezas ao redor.
O que é uma Firmeza?
A firmeza de uma força ou de um poder; pode ser feita ao redor de um assentamento ou independente dele.
Firmar um guia espiritual ou um Orixá significa proporcionar-lhe condições mínimas para que tenha um ponto fico onde receba os pedidos de auxilio; de oferendas, etc.
A firmeza assemelha-se a um assentamento, mas tem menos recursos ou poderes de realização, pois é uma simplificação dele e destina-se a facilitar a atuação das entidades.
Um assentamento cria um vórtice e um campo eletro-magnético que interagem com outras dimensões da vida de forma permanente, sendo em si um “ponto de força” localizado nas dependências do terreiro.
Enquanto uma firmeza cria um ponto de sustentação para as ações da entidade firmada, dando-lhe um pouco mais de segurança para que possa resistir às reações das suas atuações em beneficio das pessoas necessitadas do seu auxilio.
• Um assentamento assemelha-se a uma fortaleza que abriga um exército completo, com todas as suas divisões.
• Uma firmeza assemelha-se a instalação avançada de uma divisão.
No assentamento estão todas as divisões, na firmeza está somente uma ( a da entidade firmada).
• Um assentamento é algo definitivo, uma firmeza pode ser transitória.
• Um assentamento deve ser iluminado de forma permanente e deve ser alimentado periodicamente com elementos predeterminados.
 Uma firmeza pode ser iluminada periodicamente e pode ser realimentada de vez em quando.
Um assentamento deve ter um dia definido na semana para ser iluminado e realimentado; já uma firmeza, deve ser iluminada e realimentada sempre que o seu zelador fizer um novo pedido de auxilio à entidade firmada.
 Assentamento e firmeza são similares e a segunda é uma simplificação do primeiro, mas tem as mesmas funções, que é protegerem, sustentarem e ampararem algo ou alguém. 
Fonte: Rituais Umbandistas - Rubens Saraceni - Ed. Madras

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ATO DEVOCIONAL

Ato devocional é uma ação praticada a partir de nossa fé nos poderes do nosso divino criador Olorum e nos dos nossos Sagrados Orixás.

          Nossa fé é o elo com os poderes deles e além de canaliza-los e direciona-los para onde e para quem queremos ajudar, a força da nossa fé alimenta toda a ação que estará sendo realizada para os beneficiários do nosso ato devocional, que tem um momento para começar, mas que se desdobra no tempo e se prolonga na vida das pessoas beneficiadas.
          Todo ato devocional se sustenta nos nossos sentimentos de fé, amor, compaixão e piedade para com nossos semelhantes, aos quais queremos vê-los bem e atendem aos propósitos divinos, pois são através deles que os poderes de Olorum e dos Sagrados Orixás fluem para as pessoas beneficiarias da nossa devoção religiosa, sustentadora de todos os nossos atos em prol dos nossos semelhantes encarnados e os desencarnados, mas que também necessitam do nosso auxilio.
          O ato devocional umbandista, quando praticado com amor, compaixão e piedade para com os espíritos sofredores é tão poderoso que de nossas mãos saem feixes de luzes que os envolvem e cura-os, que os aliviam de seus sofrimentos e pacificam seus íntimos, atormentados pelos rigores da lei para com os que, aqui na terra, se entregaram de corpo e alma às coisas mundanas e se esqueceram de que a vida não se acaba com a morte do corpo físico, mas sim, se prolonga no plano espiritual, onde haveremos de colher os frutos de nossa passagem terrena, materialista ou espiritualizadora.
         O umbandista deve crer no poder do nosso divino Criador Olorum e no dos Sagrados Orixás, as potencias criadoras e governadoras da Criação.
         O poder do ato devocional umbandista é tão grande que, quando direcionado para alguém necessitado, dispensa a ida da pessoa à natureza e tudo acontece a partir de uma única vela, de um copo com agua, de um ramo de erva e de uma oração em beneficio dos necessitados.
         Poucos prestam muita atenção às recomendações dos guias espirituais quando eles mandam os consulentes acenderem uma vela em sua casa para Deus e determinado Orixá, mas o guia esta praticando um ato devocional, pois estará na casa da pessoa e, após ela fazer o que foi pedido, ele ativará, através de um ato devocional, o poder do Orixá em beneficio da pessoa necessitada, inundando sua casa e sua vida com as luzes vivas e divinas, que tem poder de realização porque proveem diretamente dos seus irradiadores divinos. 
 - Como auxiliar espíritos sofredores na Luz de Pai Oxalá.
"Cada espirito sofredor que você ajuda é uma luz que ascende em sua coroa."   - Pai João de Mina -
- Acender uma vela branca de 7 dias;
- Elevá-la acima da cabeça, Consagrando:
“Consagro essa vela ao Divino Criador Olorum, ao Pai Oxalá, a todos os meus Orixás Pessoais, aos meus Guias e Protetores espirituais. Amém!”
 - Colocá-la sobre o altar. Ajoelhar-se, elevar as mãos na altura da chama da vela e fazer esta oração:
     “Meu Pai Oxalá eu Vos clamo que envie a Sua Luz Viva e Divina da Fé para a chama esta vela e que ela envolva-me completamente e, a partir de mim, projete-se para toda esta minha casa, pra todos os meus familiares que aqui vivem comigo, para todas as nossas Forças Naturais, Espirituais e Divinas e que, a partir de cada um de nós Ela projete-se ao infinito, alcançando tudo e todos que estiverem ligados a nós negativamente ou conosco tenham se antagonizado, alcançando todos os espíritos sofredores alojados dentro da minha casa ou dos meus campos vibratórios, neutralizando todos os seus negativismos, decantando todos os seus sentimentos negativos, purificando-os e transmutando-os, positivando-os, reordenando-os, reequilibrando-os e encaminhando-os para os seus lugares na Criação. Amém!” 
Pai Rubens Saraceni

terça-feira, 17 de maio de 2011

A importância da educação mediúnica

Mitos e Preconceitos
 “Desenvolver a mediunidade não significa dar algo a quem não está habilitado para recebê-lo, mas sim, em habilitar alguém a assumir conscientemente o Dom com o qual foi ungido. Ao contrário do que apregoam, mediunidade não é punição, e sim benção divina, concedida ao espírito no momento em que encarna.”
A educação mediúnica é de suma importância para quem realiza práticas magísticas ou religiosas de fundo espiritual, espiritualista ou espiritualizador.
Quando alguém adentrar pela primeira vez num templo de Umbanda, notará que os praticantes fazem certas saudações rituais de significado ou valor por eles desconhecidos. O comportamento exterior dos praticantes se altera, eles se tornam diferentes dentro do recinto consagrado às práticas religiosas.
Tudo isto faz parte de educação mediúnica e os comportamentos têm de estar afinizados com o que se realiza dentro de um espaço consagrado.
Mas até aqui, ainda estamos abordando aspectos exteriores da formação religiosa, pois ao nos voltarmos para o interior dela, deparamo-nos com a educação mediúnica. Para colocar o médium em sintonia com o mundo invisível, cria-se toda uma pré-disposição às manifestações espirituais e aos rituais magísticos.
A educação mediúnica é muito importante, pois só se reeducando internamente um médium alcança níveis vibratórios mentais e conscienciais que lhe facultam os níveis espirituais superiores a sintonização mental com seu mestre individual a neutralização de possíveis vícios antagônicos (fumo e álcool, utilizados nos trabalhos) com as práticas religiosas e a compreensão ou percepção do que está acontecendo à sua volta, mas que não está visível, assim como do que está acontecendo dentro de seu campo mediúnico. Quando bem educado mediunicamente, sua sensitividade é capaz de identificar presenças positivas ou negativas que adentram em seus limites vibratórios.
Aí temos em poucas linhas, um apanhado de como a boa educação mediúnica auxilia os praticantes ou médiuns.
Mitos
Os mitos sempre têm um pouco de verdade e um pouco de fantasia.
É comum dizer-se que quem desenvolve sua mediunidade torna-se mais capaz do que aquele que não a desenvolve. Isto é uma verdade somente se aquele que se desenvolveu mediunicamente também compreendeu os compromissos que assumiu. Mas é pura fantasia se ele nada entendeu sobre seus compromissos.  Uma vez que  adquiriu um poder relativo,  começa a se chocar com um poder absoluto, que é a Lei de Ação e Reação; assim, sua suposta superioridade logo o lança em um sensível abismo consciencial.
Portanto, quando o assunto é mediunidade, todo cuidado é pouco e toda precaução não é o suficiente, se não estiver presente uma forte dose de humildade e compreensão de que um médium não é um  fim em si mesmo, mas sim  tão somente um meio.
Preconceitos
Muitos são os preconceitos quanto à educação mediúnica. Muitas pessoas temem certas inverdades  divulgadas à solapa por desconhecedores das religiões espiritualistas.
Vamos a algumas colocações correntes que pululam no meio religioso:
·        a mediunidade é uma provação purgatória;
·        a mediunidade é uma punição cármica;
·        a mediunidade escraviza os médiuns;
·        a mediunidade limita o ser.
Comecemos por desmentir estas colocações negativas:
1 – mediunidade não é uma provação purgatória, mas sim uma provação Divina e um Dom que aflorou no ser que alcançou uma certa etapa evolutiva e assumiu um compromisso no plano astral antes de encarnar. Se bem desenvolvida, irá acelerar sua evolução espiritual;
2 – não é uma punição cármica, mas sim um ótimo recurso que a Lei nos facultou para nos harmonizarmos com nossas ligações ancestrais;
3 – não escraviza o médium, apenas exige dele uma conduta em acordo com o que esperam os espíritos que através dele atuam no plano material para socorrer os encarnados necessitados tanto de amparo espiritual quanto de uma palavra de consolo, conforto ou esclarecimento;
4 – não limita o ser, pois é um sacerdócio. E, ou é entendida como tal ou de nada adianta alguém ser médium e não assumir conscientemente sua mediunidade;
Para concluir, podemos dizer que a mediunidade, por ser um Dom, tem de ser praticada com fé, amor e caridade. Só assim nos mostramos dignos do Senhor de Todos os Dons: nosso Divino Criador!
(texto extraído do livro “O Código de Umbanda”, pág. 589.)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

As Velas


 As velas, em si, são um mistério religioso disseminado por todas as religiões do mundo e só algumas não as adotam. Mas se soubessem que elas têm uma utilidade importantíssima, com certeza também adotariam o seu uso durante seus rituais.
As velas são um substituto muito prático às piras ardentes da antigüidade, nos remotíssimos cultos às divindades do fogo, saudadas com tochas ardentes ou fogueiras.
Ninguém pode afirmar ao certo quando começou o uso das velas, pois com certeza quem as inventou tinha outros objetivos em mente.
O fato é que as velas são um mistério em si e, quando acesas magística ou religiosamente, são um poderoso elemento religioso mágico, energético e vibratório que atua no espírito de quem receber sua irradiação ígnea.
O uso religioso das velas justifica-se porque quando as acendemos, elas tanto consomem energias do "prana" quanto o energizam, e seus halos luminosos interpenetram as sete dimensões básicas da vida, enviando a elas suas irradiações ígneas.
É essa capacidade das velas que as tornam elementos mágicos por excelência, pois por meio de suas irradiações e suas vibrações incandescentes é possível todo um intercâmbio energético com os seres que vivem nas outras dimensões e com os espíritos estacionados nas esferas ou níveis vibratórios positivos e negativos.
Essa capacidade delas justifica seu uso até quando são acesas para o espírito de alguém que desencarnou, pois ele irá receber um fluxo luminoso, curador de seu corpo energético, fortalecedor de seu mental e terá seu emocional reequilibrado, caso tenha sido atraído pelo magnetismo de uma esfera ou nível vibratório negativo. Mas caso esteja em alguma esfera positiva e luminosa, também receberá o fluxo da vela do mesmo jeito, incorporando-o ao seu corpo energético e fortalecendo seu magnetismo mental.
Saibam que o fluxo irradiante de uma vela, se for ativado por sentimentos virtuosos, é muito positivo e gratificante a quem o receber.
Agora, se os sentimentos de quem a ativar magicamente forem negativos, o fluxo será desenergizador, desmagnetizador, emotivo e poderá romper a aura da pessoa à qual for direcionado, assim como poderá "queimar" o corpo energético dos espíritos alvos de suas irradiações ígneas.
Só que, no caso de quem ativa negativamente uma vela contra alguma pessoa ou espírito, acontece uma reação imediata e fulminante da Lei Maior e da Justiça Divina, pois quem a ativou perdeu sua própria luz e, com o tempo, a dor de quem foi atingido retornará e o atingirá com o rigor da lei.
Portanto, uma vela só deve ser acesa por um bom motivo e por sentimentos virtuosos, pois, na mesma proporção, a Lei Maior retribuirá com luz Divina quem deu luz a alguém necessitado ou merecedor de suas irradiações.
O ato de acender velas brancas ao Anjo da Guarda é muito positivo e funciona mesmo. Ele tanto a usará para atuar em favor da pessoa guardada por ele, quanto para energizar-se com uma irradiação ígnea poderosíssima, capaz de acelerar imediatamente suas vibrações e expandir suas irradiações mentais, pois como já comentamos, seu mental será fortalecido.
As velas usadas nos templos têm o poder de consumir as energias negativas e os miasmas que são descarregados pelos seus freqüentadores dentro do seu campo eletromagnético, assim como, num intercâmbio energético, recebem da divindade à qual foram consagradas um fluxo de energia Divina que se espalha pelo altar e irradia-se pelo espaço interno, alcançando quem se encontrar dentro dele.
Magisticamente, as velas criam passagens ou comunicações com outras dimensões da vida e tanto podem enviar-lhes suas energias, como podem retirar delas as que estão sendo necessárias a alguém.
Por isso, toda oferenda, ritual ou solicitação de auxílio às divindades e aos guias e protetores espirituais deve ser precedida do ato
de acender uma ou várias velas, pois suas ondas serão usadas no retorno e trarão a quem oferendou ou solicitou auxílio um fluxo energético natural (de elemento), ou Divino (de divindade), ou espiritual (do espírito guia).
Em magia, o uso de velas é indispensável, porque são elas que projetam ou captam as energias mais sutis, assim como abrem campos eletromagnéticos limitados ao campo ativo delas, mas que interpenetram outras dimensões, esferas ou níveis vibratórios.
Quando um desses campos eletromagnéticos é aberto magisticamente, ele permanecerá ativo até que seja fechado ou redirecionado contra quem o ativou. Isso caso seja uma magia negativa, pois caso ela seja positiva, não há por que fechá-lo, certo?
O fato é que a umbanda e outras religiões recorrem intensamente ao uso das velas e as usam:
• Para iluminar seus altares e suas casas das almas ou cruzeiros;
• Quando oferendam as divindades ou os guias protetores;
• Para magias positivas ativadas para cortar demandas, magias negras, feitiços, encantamentos etc.
Os resultados são ótimos e, na maioria das vezes, benéficos, pois só se beneficia realmente quem é merecedor, já que o uso das velas atende a necessidades religiosas regidas pela Lei Maior e pela Justiça Divina em seus recursos mágicos.
Magias negativas, tais como acender vela preta em cima do nome ou da fotografia de alguém; escrever o nome de alguém em uma vela e depois acendê-la de ponta-cabeça; acender velas para "amarrar" marido, amante ou namorado; acender velas para fechar os caminhos ou as portas de alguém ou para "afundar-lhe" a vida são entendidas como fraqueza ou negatividade de quem o faz e não demora muito para que a Lei Maior e a Justiça Divina providenciem os merecidos choques de retorno ou punições exemplares a quem recorre a essas magias condenáveis.
Tudo é só uma questão de tempo, pois se podemos agir positivamente, então nada justifica o mau uso que dão às velas e aos mistérios mágicos negativos que são ativados quando são acesas com interesses mesquinhos ou desumanos.
É muito positivo acender uma vela branca de sete dias sobre a fotografia de uma pessoa que esteja doente ou desenergizada, pois enquanto durar a chama ela vela um halo luminoso (que não é a aura) permanecerá em torno da pessoa doente, retirando do seu corpo energético os acúmulos de energias enfermiças. E, caso a pessoa esteja desenergizada, a sua aura absorverá do halo tantas energias quantas forem possíveis.
A vela deverá ser colocada sobre a cabeça da pessoa doente ou desenergizada retratada na fotografia.
Caso a pessoa esteja sofrendo por causa de uma magia negra, deve-se firmar sobre sua cabeça, na fotografia, uma vela branca de sete dias, e firmar em cruz e, fora da fotografia, outras quatro velas de sete dias, mas nas cores azul-escuro, amarelo, vermelho e laranja.

• A vela azul deve ficar diante da cabeça: norte.
• A vela laranja deve ficar diante dos pés: sul.
• A vela vermelha deve ficar à direita: leste.
• A vela amarela deve ficar à esquerda: oeste.

Tendo formado a cruz, deve-se clamar por Deus, pela Sua Justiça Divina e pela ação de Sua Lei Maior, pedindo que aquela pessoa seja purificada e livrada de quaisquer magias negativas, de atuações de espíritos trevosos, de maldições, de mau-olhado, de pragas e que quem as projetou, que as receba de volta até que venha a ser purificado tanto pela Lei Maior quanto pela Justiça Divina.
Também se deve clamar à Lei Maior e à Justiça Divina se houver algum ponto mágico negativo firmado ou alguma magia negativa e seu respectivo campo eletromagnético ativados contra a pessoa na fotografia para que no poder da Lei Maior e da Justiça Divina sejam diluídos, purificados e fechados, deixando de existir tanto no plano material quanto espiritual, para que deixem de atuar negativamente contra a pessoa.
Deve-se, ainda, clamar à Lei Maior e à Justiça Divina que, caso algumas entidades negativas tenham sido ativadas magicamente contra a pessoa na fotografia, então que a Lei Maior e a Justiça Divina as redirecionem, segundo a lei de causas e efeitos, e que cada um receba segundo seu merecimento.
Fim de uma magia negativa!

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Principe das Trevas - Na Obra de Rubens Saraceni

O Principe das Trevas - Na Obra de Rubens Saraceni
Organizado e Comentado por Alexandre Cumino


Lúcifer, Satã, Satanás, Capeta, Demônio, Belzebu, Tinhoso, Chifrudo, Coisa Ruim, Principe das Trevas etc...
O que seria isto à Luz da Umbanda?

A Umbanda não crê em “demônio”, da forma como foi idealizado no Cristianismo e mais especificamente no Catolicismo ou no Islã, no entanto muitas vezes nos deparamos com “Mistérios Negativos” ou “Mistérios Divinos” assentados em faixas negativas, a que nós chamamos trevas, que outros identificam com a palavra católica ou popular “inferno”, e nos questionamos acerca de nossa ignorância sobre os mesmos. Afinal Inferno não é um estado de espírito, ou região astral criada pelo psiquismo dos que estão mentalmente nesta condição? No entanto me parece que algumas regiões negativas foram criadas antes que ali chegasse o primeiro ser infernal, ou melhor trevoso, bem me desculpe apenas um ser (filho de Deus) negativado. Não é fácil avaliar quem desce as trevas, afinal muito amor deve ter a mãe ou o pai que vai visitar ou resgatar um filho na cadeia, numa zona de meretrício ou numa “cracolândia”. Mas nem sempre esta mãe ou pai, por mais amor que tenha pode ir desprotegida (o) demosntrando sua fragilidade e mesmo porque para entrar em certos lugares não se pode ser frágil.
Lendo a obra psicografada por Rubens Saraceni nos deparamos muitas vezes com mistérios da criação em suas realidades negativas que em outras obras nem de perto nos foram apresentados e muito menos de tal forma.

Em A Evolução dos Espíritos tomamos conhecimento de um Avatar, um Demiurgo, que em uma era desconhecida para nós, Era Cristalina, talvez a mítica Atlântida, que encarnou e chamou a si todos os filhos de Deus negativados para recolherem-se com ele nas faixas negativas do astral.

Esta seria uma forma de entender o mítico Lúcifer-yê, um mistério assentado nas Trevas para recolher os que ficam pelo caminho.

No Cavaleiro da Estrela Guia nos deparamos com “O Próprio Ser Infernal” que invade a “Assembléia Sinistra” com o objetivo específico de levar consigo o Cavaleiro, que mergulha na dor e nas trevas.

Nas palavras do Cavaleiro da Estrela da Guia:

O que me aconteceu? O horror, o pavor, o medo, a angústia, a aflição, o desespero, a loucura, o remorso, a tentação, a luxúria, o desejo, e muitos outros mistérios das trevas da ignorância se fizeram vivos no meu mental: tanto superior quanto inferior. Todo o meu ser imortal foi violado e violentado. O horror de me ver sendo levado pelo próprio senhor dos horrores. O medo do que me aconteceria. A angustia por não saber se voltaria à Luz. A aflição por meu estado enérgico que se enfraquecia a cada instante. O desespero pelas dores horríveis que sentia ao ser torturado cruelmente. A loucura pelas visões horrendas que tive. O remorso ao ter, diante de meus olhos, todos os meus fracassos diante da lei na execução de determinadas tarefas. A tentação, ao ter meu mental inferior ativado ao máximo por aquele que tem a chave de acesso a ele. A luxúria ao dar vazão a tentação, ampliada em muito na sua intensidade. O desejo ao ver, ainda que ilusório, o ser dos meus encantos e desejos.
A tudo eu ouvia, via ou reagia com uma observação apenas: eu sou você e você é parte de mim...
[...] Então, em um último esforço, criei em meu mental o vazio absoluto...
A voz do silêncio... eu tornei a ouvi-la, no meu vazio absoluto, dizendo: “Se você morrer por mim, eu, o seu Criador, irei revivê-lo em mim, pois só eu sou a Vida, o resto é apenas um meio de vida  da Vida. Eu sou a Vida, e quem vive em mim, por mim e para mim, jamais morrerá...
[...] Minha prova havia terminado. Um dia meu ancestral místico me havia dito: “Um dia eu testarei seu amor por mim”. Este havia sido o dia... E foi este amor que me resgatou da queda nas trevas do mental inferior...

No Guardião da Meia Noite a mesma história se passa por outro prisma, no qual é ressaltado o compromisso que todos os guardiões assumem, após a queda do Cavaleiro e sua posterior reencarnação.

No título Guardiões dos Sete PortaisLúcifer-yê aparece muitas vezes como o mistério da ilusão, aquele que abençoa amaldiçoando e que amaldiçoa abençoando, pois se apresenta invertido na criação. Acompanhamos uma luta milenar travada entre o Cavaleiro da Estrela da Guia junto aos Guardiões, contra Lúcifer-yê e os caídos nas trevas humanas. Fica claro, no entanto, que tem uma importância maior a presença de Lúcifer-yê e seu mistério nas faixas negativas.

No Guardião das Sete Encruzilhadas podemos ler as palavras de Lúcifer-yê, em desabafo dirigido ao Criador, a quem ele diz amar, adorar e venerar. Abaixo coloco apenas uma parte de seu “desabafo” de forma editada:

-Por que, meu Senhor? Por que tinhas de me enviar até este abismo da perdição humana?
Por que logo eu, que tanto vos amo, adoro e venero, tinha de ser o escolhido para ser o catalizador, absorvedor e acumulador das energias geradas por todos os espíritos humanos viciados? Por que, meu Senhor? Não vedes que eles, os humanos nunca vão aprender...
[...] Senhor meu, eu vos amo, respeito, adoro e venero, e, no entanto sou tão incompreendido pelos servos do meu irmão do alto! Eles não entendem que se sou como sou é porque assim são os semelhantes deles que não vos amam, veneram, adoram e respeitam, e que por vós são enviados ao meu reino sem luz com todos os vícios humanos, os quais tornam meus domínios depósitos da escória humana. Eles não sabem que só odeio quem vos despreza; só persigo quem se afasta de voz...
[...] Por que vosso servo do alto não diz a eles como realmente sou, quem eu sou e por que sou como sou?

Logo esta representação de Lucifer-yê está distante da tradicional representação católica de “Lucifer” (“O Anjo Caido”, aquele que desafiou Deus, por vaidade, ego e eorgulho).

E agora, quase dez anos depois, com a publicação do recém lançado Cavaleiro do Arco Íris, temos uma conclusão com relação a este mistério na criação, que se revela num diálogo travado entre o Cavaleiro e o “Príncipe das Trevas”, como vemos abaixo:

- Descobriu quem sou eu, Mago da Vida?
- Se não estou enganado, é aquele que chamo de Príncipe das Trevas. Estou certo?
- É assim que me concebe, mago da Vida?
- É assim que o idealizo e concebo, já que reina absoluto nos domínios sóbrios da face escura do Senhor das Trevas.
- Não acha melhor uma concepção menos humana, Mago da Vida?
- Nem pense nisso, Príncipe das Trevas.
- Por que não? Uns me concebem e idealizam como um cão infernal, outros me imaginam como uma hidra ou um dragão, ambos assustadores. Já me idealizaram e conceberam de tantas formas que só a criativa imaginação humana é capaz de tanto, sabe?
- Sei, sim. Por isso o idealizo e o concebo como príncipe, Príncipe das Trevas!
- Tem certeza de que não me prefere como a tenebrosa, assustadora e maldita serpente das trevas , à qual você vinha combatendo desde que se humanizou e idealizou-me e concebeu-me como a traiçoeira e peçonhenta serpente das trevas?
- Nem pense nisso, príncipe! Já chega de combater serpentes.
- Mas foi você mesmo que semeou essa minha concepção no meio humano, Mago da Vida!
- Eu fiz isso?
- Fez, sim.
- Essa não! Deve ter sido por causa dos meus ancestrais irmãos venenosos e traiçoeiros, sabe?
- Eu sei?
- Não sabe?
- Eu deveria saber, Mago da Vida? Afinal, venenosos e traiçoeiros são seus asquerosos irmãos ancestrais, não eu, que só tenho recolhido-os em meus domínios e contido suas iras e fúrias com os tormentos que eles criaram para si mesmos.
- Essa não! Só agora você me revela isso, irmão Príncipe das Trevas?
- O que foi que eu revelei, irmão Mago da Vida?
- Que você assume a condição com a qual o distinguimos em nossa imaginação, e depois plasma o tormento que é em si mesmo, já segundo nossa concepção e idealização. E daí em diante se nos mostra tão tormentoso e assustador como imaginamos que deva ser, oras!
- Você não sabia que eu era, e sou assim?
- Agora sei, irmão Príncipe das Trevas.
- Que Mago da Vida estúpido que você era, não?
- Sem ofensas, príncipe. Não vamos baixar o nível de nossa conversa, certo?
- Tudo bem, Mago. Mas que você foi um estúpido em comparar-me aos seus venenosos e traiçoeiros irmãos ancestrais, isso foi, certo?
- Ponto para você, príncipe. Eu real-mente fui um estúpido quando acreditei que aqueles safados eram você. Mas ago-ra não me enganarão mais, sabe?
- Porque acha que eles não o enganarão, se são uns enganados enganadores?
- Bom, eu já o idealizei e concebi como o Príncipe das Trevas, que aos meus olhos só se mostrará como escuridão, nunca como uma aparência desumana. Portanto se alguma sombra mover-se no meio da escuridão, com certeza não será você porque é ela em si mesmo, e não o que se move dentro dela.
- Que sábia descoberta, Mago da Vida. Já estou deixando de vê-lo como um estúpido e achando-o um sábio.
- Eu, um sábio? Nem pense isso, príncipe. Sou só um modesto aprendiz dos vastos mistérios da Criação. Agora, você sim, é um sábio que tem muito o que me ensinar sobre seus domínios ocultos pela escuridão do seu mistério, que é você em si mesmo.
- Você está me idealizando como um sábio, Mago da Vida?
- Já o idealizei como sapientíssimo Príncipe das Trevas, que certamente me instruirá em como devo proceder com meus astutos, traiçoeiros e venenosos ir-mãos ancestrais que se ocultaram na sua escuridão. Com certeza de agora em diante eles não ficarão invisíveis aos meus olhos porque os diferenciarei de você mesmo, já que você é a escuridão e eles são as sombras ou as formas desumanas que vivem, habitam e se movem em seus domínios. Com certeza caso eu venha a ser confundido por eles, você imediata-mente me alertará e instruirá sobre como proceder em seus domínios e como anular as ações intentadas por eles.
- Essa não, Mago da Vida!!!
- Esse sim, Príncipe das Trevas...
[...] Você disse que me ama e estima, respeita e confia e até me tem na conta de um nobre príncipe!
-  É isso mesmo. Eu descobri sua razão de existir como parte do todo e encontro nobreza no seu modo de atuar, pois não atua de outro modo e forma que não a desejada por quem o idealiza, concebe e concretiza. Só um nobre é tão generoso, e só um concede o que dele desejam, ou estão aptos adquirirem, assumirem e sustentarem. Um nobre não nega algo se o que lhe foi pedido é justo, e não impõe nada a ninguém se for violentar sua natureza ou contraria seus desejos mais íntimos, sabe?
- Agora sei, Mago da Vida. Já estou me sentindo um nobre príncipe regente dos vastos domínios escuros do Senhor da Trevas. E, para ser sincero, até estou me sentindo melhor nessa sua nova idealização e concepção humana do que eu me senti na concepção anterior, quando você me idealizou como uma asquerosa e traiçoeira, venenosa e ardilosa serpente, sabe?
- Agora sei, Príncipe das Trevas!...
[...] - É isso, Mago esclarecido. Eu não tenho a iniciativa em nenhum campo. A mim compete unicamente a reação a todas as iniciativas incorretas. Se uma religião disser que um determinado procedimento é um pecado, quem proceder segundo ela indicou estará pecando e provocará uma reação de minha parte. E se a reação é ir para o purgatório, o pecador irá para o purgatório. Se indicar que deve ir para o inferno, então irá para o inferno. E assim por diante.
Eu sou um mistério que só adquiro existência a partir das ações contrárias à vida. Mas, quando cessam as ações e as causas delas, cessa minha atuação na vida de quem me ativou em sua existência.
- Acho isso tudo de uma lógica e grandeza única, nobre e esclarecedor Príncipe das Trevas.

Este desfecho para as aparições do “Príncipe das Trevas” na obra de Rubens Saraceni, revela algo muito especial no que diz respeito à compreensão dos mistérios, no caso deste em específico e de outros que seguem o mesmo modelo. Creio que algo semelhante se dá com o Mistério Exu, por exemplo, pois quando se concebe Exu como algo positivo ele se mostra de forma positiva, ao concebê-lo de forma negativa ele se mostra de forma negativa. Muitos crêem que Exu deve ser agressivo, falar impropérios e expor as pessoas ao ridículo, o resultado é que muitas entidades assumem esta carapaça para se enquadrar na expectativa de quem o evoca. É claro que nem sempre quem responde a este chamado são as entidades de Lei.
Pelo que entendemos aqui o “Príncipe das Trevas” está muito longe da concepção e idealização do “demônio” católico ou evangélico, portanto que cada um fique com os “demônios” que criaram para si e para suas religiões. Pois o único e verdadeiro demônio em nossas vidas somos nós mesmos quando caminhamos movidos pelo Ego.

No Catolicismo “Lucifer” é o Anjo Caído porque quis ser como Deus, No judaísmo não há um anjo com o nome “Lucifer”, que é latino, uma tradução do romano “Phósforos”, uma divindade, “O Portador da Luz”. No judaísmo Anjo não tem livre arbítrio ele cumpre a vontade de Deus, logo é inconcebível o mesmo se “revoltar”. No Velho Testamento vemos “O Opositor” (Satanás) dialogando com Deus, como velhos amigos a cerca de Jó e o “tentador” cria situações para desviar Jó, tão querido a Deus. Esta é uma das poucas passagens do Antigo Testamento em que aparece “o opositor”, pois nesta realidade pré-cristã Deus faz o bem e faz o mau, se é para matar os Egípcios Ele mesmo mata... mas por meio do “Anjo da Morte” é claro, que não é nenhum demônio apenas está a serviço de Deus.

E voltando ao Anjo Caido, enquanto umbandista me parece uma história bem mal contada, um Anjo, o mais belo, ter sua queda por vaidade? Difícil de crer, mais fácil entender que é mais um mito e tabu católico para evitar de explicar um mistério teológico. No islã “Shaitan”, segundo o Corão teve sua queda por se recusar a abaixar a cabeça para o homem feito de barro, já que ele era um anjo feito do fogo. No mesmo Islã há também os Gênios (djin) que podem ser bons, maus e neutros.

Afinal quem é o demônio em nossas vidas que não nossas vontades e vícios?
Quanto a espíritos obsessores, são o que são, apenas espíritos.

Já “Tronos Opostos” são outro mistério do Criador, não confundir com Orixás Cósmicos, os quais de asentam no embaixo exatamente nos pólos opostos aos 14 Orixás exatamente para absorver nossos vícios nos sete sentidos da vida:

Fanatismo e Ilusão, Ciúmes e Ódio, Soberba e Ignorância, Preconceituosidade (Mediocridade) e Injustiça, Arrogância e Desordem, Imobilidade (acomodação) e Involução, Apatia e Morte.

Somos nós que geramos o vicio e o oposto das virtudes (Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração) e a função dos Tronos Opostos é atrair os seres “pesados” que carregam seus vícios e absorver os mesmos. São eles O Trono Oposto da Fé, do Amor... e claro Masculino e Feminino. No Livro Orixás Ancestrais considera Lucifer e Lilith como os Tronos Opostos à Oxalá e Logunan (Oyá-Tempo), o que deve ser interpretado também e não levado ao pé da letra, são opostos mas não deixam de ser “Mistérios do Criador”.

Sei que não é fácil entender alguns conceitos, mas temos a eternidade para compreendê-los não é?
P.S. Todos os livros citados de Rubens Saraceni são publicados pela Editora Madras www.madras.com.br